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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

PROCURA-SE UM AMIGO




Foto Celina Missura

PROCURA-SE UM AMIGO – VINICIUS DE MORAES

 

Þ    Procura-se um amigo. Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração.

Þ    Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa.

Þ    Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.

Þ    Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.

Þ    Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Þ    Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão.

Þ    Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar.

Þ    Deve ter um ideal e medo de perde-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo.

Þ    Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Þ    Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos; que se comova , quando chamado de amigo.

Þ    Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos de grandes chuvas e das recordações de infância.

Þ    Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações dos sonhos e da realidade.

Þ    Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Þ    Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.

Þ    Precisa-se de uma amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.

Þ    Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
 
 
 
 
 
Texto enviado por email por Agnaldo Sérgio Missura

 

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