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sexta-feira, 7 de março de 2014

TRÁFICO DE PESSOAS



Tráfico de pessoas



Especialista acredita que a feminização da pobreza seja o principal motivo de tantas vítimas da rede de comércio internacional para fins sexuais

A s mulheres vítimas do tráfico são, antes de tudo, vítimas do abandono social, da falta de políticas públicas. Muitas daquelas que passaram pela experiência da exploração sexual fora do País preferem não voltar para o Brasil, pois sabem que aqui não encontrarão perspectiva de trabalho, acompanhamento médico, muito menos acolhimento social ou familiar”. A afirmação é da advogada e assistente social Tânia Teixeira Laky de Sousa, autora da pesquisa “Tráfico de Mulheres: Nova Face de uma Velha Escravidão”, que foi apresentada pela primeira vez no III Simpósio Internacional para o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em Campo Grande (MS) no dia 20 de junho deste ano.
Para Tânia Teixeira Laky, é a feminização da pobreza o principal motivo de tantas vítimas da rede de tráfico internacional para fins sexuais. “Estão atrás de emprego; aqui, não encontram perspectivas. O que os governos vêm fazendo para estancar o êxodo? Como estão cuidando das mulheres que passam por esse trauma e voltam para o Brasil? Nada. Nenhuma política pública séria e de resultados reais está sendo trabalhada no País”, garante a pesquisadora.
BRASIL COMO DESTINOSegundo a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil (Pestraf) de 2002, o Brasil é o país de destino para pessoas traficadas, principalmente de países com baixa renda per capita. Entre eles, os sul-americanos Bolívia, Peru e Paraguai; China e Coreia, na Ásia; e Nigéria, no continente africano. O mesmo desejo que move brasileiros a cruzarem fronteiras motiva estrangeiros a virem para o Brasil: melhores condições de vida e ascensão social.
Fonte: andi.org.brnacional
POBREZA E VULNERABILIDADE
Para a pesquisa, tese de doutorado defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Tânia entrevistou, durante quatro anos, mais de uma centena de brasileiras que estiveram ou estão em situação clandestina em Portugal e na Espanha. Nesse período, ela percebeu que a maioria das mulheres que aceitava sair do Brasil para se prostituir no exterior vivia por aqui uma situação de extrema pobreza e vulnerabilidade. Infelizmente, segundo a autora, elas seguem encontrando violência e desumanidade fora e dentro do País.

“Esse tráfico de mulheres para fins sexuais é uma releitura da escravidão. Os gastos com alojamento, transporte, alimentação e bebidas, patrocinados pelas redes de tráfico, mantêm-nas endividadas. Para realizar o pagamento, elas fazem uma quantidade desumana de programas, dormem pouco, adoecem, vivem em depressão, tornam-se alcoólatras e viciadas. Vão ficando feias e, quando esse corpo não serve mais, é descartado sem pena”, diz Tânia. A pesquisadora observa que, quando as mulheres conseguem voltar, estão doentes e vitimadas por alguma doença sexualmente transmissível (DST), mas não recebem tratamento específico. “Também faltam casas de abrigo para elas. Precisariam de tratamento psicológico. Violência não tratada é violência repetida”, afirma ela.
Durante o lançamento da pesquisa, ocorrido em 21 de junho, foram distribuídos 250 exemplares digitais do trabalho de Tânia Laky. O III Simpósio Internacional ocorreu em um dos Estados onde esse tipo de crime é mais presente, incluindo indígenas que vivem na região de fronteira com o Paraguai e a Bolívia. Segundo o Ministério da Justiça, Mato Grosso do Sul só perde para Bahia e Pernambuco em quantidade de vítimas de tráfico. Levantamento nacional divulgado no final do ano passado pelo governo revelou que, entre 2005 e 2011, 475 pessoas foram alvo desse tipo de crime.
Fonte: III Simpósio Internacional para o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

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