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sexta-feira, 5 de abril de 2013

ORAÇÃO DO MILHO

 
 
Oração do Milho
 

 Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.

 Meu gão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.

 Sou a planta primária da lavoura.

 Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal.

 O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares.

 Sou apénas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.

 Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo.

 Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito.

 Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário.

 Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.

 Sou apénas a fartura generosa e despreocupada dos paiois.

 Sou o cocho abastecido donde rumina o gado

 Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.

 Sou o carcarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.

 Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde

 SOU O MILHO
 
Cora Coralina

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