Foto Celina Missura
PROCURA-SE
UM AMIGO – VINICIUS DE MORAES
Þ
Procura-se
um amigo. Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta
ter coração.
Þ
Precisa
saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de
madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da
brisa.
Þ
Deve
ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse
amor.
Þ
Deve
amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Þ
Deve
guardar segredo sem se sacrificar.
Þ
Não
é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda
mão.
Þ
Pode
já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que
seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Þ
Deve
ter um ideal e medo de perde-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o
grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal
objetivo deve ser o de amigo.
Þ
Deve
sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Þ
Procura-se
um amigo para gostar dos mesmos gostos; que se comova , quando chamado de
amigo.
Þ
Que
saiba conversar de coisas simples, de orvalhos de grandes chuvas e das
recordações de infância.
Þ
Precisa-se
de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações dos sonhos e da realidade.
Þ
Deve
gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de
estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Þ
Precisa-se
de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas
porque já se tem um amigo.
Þ
Precisa-se
de uma amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em
busca de memórias perdidas.
Þ
Que
nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para
ter-se a consciência de que ainda se vive.
Texto enviado por email por Agnaldo Sérgio Missura
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