CONCEIÇÃO ROCHA, CONTA A HISTÓRIA DE DAVID, SEU FILHO COM SíNDROME DE DOWN
História de David- Uma lição de vida
Com dois dias de nascido já percebi que havia algo errado com meu filho, porque tinha uma sobrinha mais nova que ele seis dias e achava ela bem mais esperta do que David, mas o pessoal da família ficava sempre dizendo que as crianças não são iguais e acabava acreditando.Com dois meses tive certeza de que meu filho era diferente em muitas coisas.
Levei David ao médico que tinha feito meu parto e ele me encaminhou para um neuropediátra, que me confirmou o diagnóstico: síndrome de down!
Chorei muito perguntando a Deus “por quê”, e essa pergunta se repetia todas as vezes que as pessoas me diziam que ele seria uma cruz que eu iria carregar pra vida toda.
Pouco tempo depois passei a perguntar para Deus “pra quê”, pois nessa época eu já entendia que Deus não dá filhos especiais para “qualquer pessoa”, e eu já me considerava uma mulher privilegiada por ter recebido a grande tarefa de ser mãe de um filho down.
Morava no interior onde não existia o profissional recomendado para cuidar dele, como neuropediátra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.Pedi demissão do trabalho e fui morar em Salvador onde iniciamos o tratamento. Depois que ele começou a andar o médico aconselhou que voltássemos a morar no interior, pois aqui David teria uma vida mais ativa, com mais liberdade e contaríamos com a ajuda dos meus familiares.Meu filho passou por muitas situações de discriminação e briguei com muita gente por causa disso, porque eu sabia que ele tinha limitações, mas não era "doente", como diziam.
Começou a andar com 4 anos, e com 6 anos, a escola particular que existia em minha cidade não queria aceitá-lo fazendo uma série de alegações descabidas, e tive que brigar também para que meu filho tivesse a oportunidade de mostrar que era capaz tanto de aprender como de ensinar.
Separei-me do pai dos meus filhos nessa época, e com mais dois filhos, passei por uma fase bem difícil da minha vida.Apesar das dificuldades que enfrentei sozinha para criar 3 filhos, David teve tudo que os médicos recomendavam que seria bom para o seu desenvolvimento. Eu o coloquei numa escolinha de futebol, karatê e natação.Ia a todos os lugares com ele e nas festas de aniversário, era a atração, porque aonde chegava, levava sempre muita alegria. Sempre foi sorridente, carismático e simpático, e isso cativava a todos.
Com 17 anos quis entrar numa Fanfarra e por um momento achei que não fossem permitir, achando também que ele não seria capaz, mas ao contrário, foi bem acolhido recebendo toda ajuda necessária para aprender tocar corneta. Fez várias viagens com a banda, sendo homenageado em alguns lugares pela sua atuação.
Nessa época comecei a perceber seu desejo de arrumar uma namorada e muitas vezes chorei porque ele me perguntava se era feio; porque as mulheres não queriam namorar com ele; o que havia de errado que as mulheres não o queriam.
Isso me fez sofrer demais e tentava conscientizá-lo de que precisaria melhorar algumas coisas, para ser percebido por uma moça. Essa foi também uma das estratégias para ensiná-lo a ter outro comportamento, e isso ajudou bastante, porque a partir daí ele assumiu outra postura. Apaixonou-se muitas vezes e sofreu pelas rejeições, mas nunca desistiu de encontrar sua namorada.Suas orações na igreja comoviam os irmãos e quando fazíamos campanhas no monte, lá estava David orando para Deus lhe conceder sua namorada.
Em dezembro de 2007, na praia, conhecemos Tainã. Apaixonaram-se no primeiro momento, e a partir daí travamos uma grande luta para convencer a mãe da menina a permitir o namoro.Sofri junto com meu filho também nesse período, porque namoraram escondido por quase um ano. A cada 15 dias tinha que levá-lo à cidade onde pai da menina morava, ou ele trazê-la até nós, para se encontrarem.
Os pais de Tainã são separados e haviam tido uma série de problemas por conta da guarda da menina, por isso, só contávamos com o apoio do pai.Com cuidado e carinho fomos vencendo as resistências. Em dezembro de 2008 eles ficaram noivos e dezembro de 2009, se casaram numa cerimônia linda que fez toda a igreja chorar de emoção.
O sonho de David foi realizado! O sonho de encontrar uma namorada foi um milagre que só mesmo Deus era capaz de realizar.Hoje ele tem um outro sonho, que é ter o seu quarto bonito, com computador, tv e cama box, mas em breve nós iremos realizar esse sonho.Moram comigo, porque a mãe da menina diz que não sabe lidar com os dois, apesar deles não darem nenhum tipo de trabalho. O casamento para ela foi uma mudança não somente de endereço, como também de comportamento, porque David já lhe ensinou muitas coisas.
Tarefas simples como: vestir sua roupa, soutien, pentear cabelo, nunca haviam ensinado para ela, que se acostumou com isso acreditando que não era capaz. Ate hoje, quando pedimos que ela faça alguma coisa ela pergunta: Eu consigo? É fácil?Hoje, coloca a mesa para o almoço e café, estende roupas no varal, se veste sozinha, faz ligações no celular, vai comprar pão na padaria.Sabemos que ela tem muito para aprender, mas nosso amor é maior e vamos conseguir que ela se desenvolva ainda mais.
Nunca existiu nenhum aborrecimento entre eles, saem para passear junto, vão sozinhos a restaurantes e pizzaria.Conscientizei David de que temos que ter paciência com ela e nós, juntos temos muito que aprender uns com os outros.Tenho orgulho de meu filho, que tem sido responsável pela grande transformação de Tainã, mostrando assim que tudo vale a pena quando se tem amor, quando se faz por amor.
Quando perguntam para ele quais o seu sonho hoje, ele responde: “Ter um quarto lindo, com computador, guarda roupa e cama box!” ·
História de David- Uma lição de vida
Com dois dias de nascido já percebi que havia algo errado com meu filho, porque tinha uma sobrinha mais nova que ele seis dias e achava ela bem mais esperta do que David, mas o pessoal da família ficava sempre dizendo que as crianças não são iguais e acabava acreditando.Com dois meses tive certeza de que meu filho era diferente em muitas coisas.
Levei David ao médico que tinha feito meu parto e ele me encaminhou para um neuropediátra, que me confirmou o diagnóstico: síndrome de down!
Chorei muito perguntando a Deus “por quê”, e essa pergunta se repetia todas as vezes que as pessoas me diziam que ele seria uma cruz que eu iria carregar pra vida toda.
Pouco tempo depois passei a perguntar para Deus “pra quê”, pois nessa época eu já entendia que Deus não dá filhos especiais para “qualquer pessoa”, e eu já me considerava uma mulher privilegiada por ter recebido a grande tarefa de ser mãe de um filho down.
Morava no interior onde não existia o profissional recomendado para cuidar dele, como neuropediátra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.Pedi demissão do trabalho e fui morar em Salvador onde iniciamos o tratamento. Depois que ele começou a andar o médico aconselhou que voltássemos a morar no interior, pois aqui David teria uma vida mais ativa, com mais liberdade e contaríamos com a ajuda dos meus familiares.Meu filho passou por muitas situações de discriminação e briguei com muita gente por causa disso, porque eu sabia que ele tinha limitações, mas não era "doente", como diziam.
Começou a andar com 4 anos, e com 6 anos, a escola particular que existia em minha cidade não queria aceitá-lo fazendo uma série de alegações descabidas, e tive que brigar também para que meu filho tivesse a oportunidade de mostrar que era capaz tanto de aprender como de ensinar.
Separei-me do pai dos meus filhos nessa época, e com mais dois filhos, passei por uma fase bem difícil da minha vida.Apesar das dificuldades que enfrentei sozinha para criar 3 filhos, David teve tudo que os médicos recomendavam que seria bom para o seu desenvolvimento. Eu o coloquei numa escolinha de futebol, karatê e natação.Ia a todos os lugares com ele e nas festas de aniversário, era a atração, porque aonde chegava, levava sempre muita alegria. Sempre foi sorridente, carismático e simpático, e isso cativava a todos.
Com 17 anos quis entrar numa Fanfarra e por um momento achei que não fossem permitir, achando também que ele não seria capaz, mas ao contrário, foi bem acolhido recebendo toda ajuda necessária para aprender tocar corneta. Fez várias viagens com a banda, sendo homenageado em alguns lugares pela sua atuação.
Nessa época comecei a perceber seu desejo de arrumar uma namorada e muitas vezes chorei porque ele me perguntava se era feio; porque as mulheres não queriam namorar com ele; o que havia de errado que as mulheres não o queriam.
Isso me fez sofrer demais e tentava conscientizá-lo de que precisaria melhorar algumas coisas, para ser percebido por uma moça. Essa foi também uma das estratégias para ensiná-lo a ter outro comportamento, e isso ajudou bastante, porque a partir daí ele assumiu outra postura. Apaixonou-se muitas vezes e sofreu pelas rejeições, mas nunca desistiu de encontrar sua namorada.Suas orações na igreja comoviam os irmãos e quando fazíamos campanhas no monte, lá estava David orando para Deus lhe conceder sua namorada.
Em dezembro de 2007, na praia, conhecemos Tainã. Apaixonaram-se no primeiro momento, e a partir daí travamos uma grande luta para convencer a mãe da menina a permitir o namoro.Sofri junto com meu filho também nesse período, porque namoraram escondido por quase um ano. A cada 15 dias tinha que levá-lo à cidade onde pai da menina morava, ou ele trazê-la até nós, para se encontrarem.
Os pais de Tainã são separados e haviam tido uma série de problemas por conta da guarda da menina, por isso, só contávamos com o apoio do pai.Com cuidado e carinho fomos vencendo as resistências. Em dezembro de 2008 eles ficaram noivos e dezembro de 2009, se casaram numa cerimônia linda que fez toda a igreja chorar de emoção.
O sonho de David foi realizado! O sonho de encontrar uma namorada foi um milagre que só mesmo Deus era capaz de realizar.Hoje ele tem um outro sonho, que é ter o seu quarto bonito, com computador, tv e cama box, mas em breve nós iremos realizar esse sonho.Moram comigo, porque a mãe da menina diz que não sabe lidar com os dois, apesar deles não darem nenhum tipo de trabalho. O casamento para ela foi uma mudança não somente de endereço, como também de comportamento, porque David já lhe ensinou muitas coisas.
Tarefas simples como: vestir sua roupa, soutien, pentear cabelo, nunca haviam ensinado para ela, que se acostumou com isso acreditando que não era capaz. Ate hoje, quando pedimos que ela faça alguma coisa ela pergunta: Eu consigo? É fácil?Hoje, coloca a mesa para o almoço e café, estende roupas no varal, se veste sozinha, faz ligações no celular, vai comprar pão na padaria.Sabemos que ela tem muito para aprender, mas nosso amor é maior e vamos conseguir que ela se desenvolva ainda mais.
Nunca existiu nenhum aborrecimento entre eles, saem para passear junto, vão sozinhos a restaurantes e pizzaria.Conscientizei David de que temos que ter paciência com ela e nós, juntos temos muito que aprender uns com os outros.Tenho orgulho de meu filho, que tem sido responsável pela grande transformação de Tainã, mostrando assim que tudo vale a pena quando se tem amor, quando se faz por amor.
Quando perguntam para ele quais o seu sonho hoje, ele responde: “Ter um quarto lindo, com computador, guarda roupa e cama box!” ·
(Fotos - Crédito Concha Rocha)
2 comentários:
David e Tainã, parabéns!
AOS VITORIOSOS: DAVID E TAINÁ, PARABENS!
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