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terça-feira, 20 de setembro de 2011

CRISES DE HISTERIA

Nova Abordagem Diagnóstica para as Crises de Histeria

(www.boasaude.uol.com.br)
A neurose histérica do tipo conversivo, classificada primeiramente por Freud como histeria de conversão, e hoje nomeada de distúrbio conversivo pela classificação psiquiátrica norte americana, é caracterizada como uma alteração ou limitação física involuntária e inconsciente que ocorre como resultado de conflitos ou necessidades psicológicas, na ausência de distúrbio físico. Costuma-se considerar que os estudos de Freud sobre esse distúrbio foram responsáveis pelo início da psicanálise, pois através dos sintomas de seus pacientes e da melhora dos mesmos através do método por ele criado de associação livre (onde o paciente fala sobre seus problemas sem regras específicas), pôde-se perceber que o que é manifestado pela mente não é necessariamente aquilo que ela representa em sua totalidade. Como exemplo, tem-se o caso de uma paciente que sofria de dificuldade de movimentação das pernas o que parecia uma lesão orgânica mas que depois de algum tempo foi diagnosticada como um sintoma psíquico produzido devido a problemas inconscientes. Nascia assim, a definição do inconsciente dentro da mente humana.

Os sintomas apresentados por esses pacientes são dos mais diversos tipos como anormalidades motoras (paralisias, dificuldades em engolir, vômitos, incapacidade de falar, dificuldade em caminhar, etc.), perturbações sensoriais (cegueira, surdez, incapacidade de sentir cheiros, anestesia, visão embaralhada, etc.) e distúrbios de consciência. Há uma relação temporal íntima entre o início dos sintomas e um esgotamento psíquico diante de situações estressantes ou emotivas muito fortes tanto agudas quanto crônicas. Os pacientes não têm consciência de que estão produzindo os sintomas, pois os mesmos estão justamente presentes para se evitar o afloramento de pensamentos inconscientes dotados de uma carga emotiva intensamente angustiante e incapacitante, que poderia trazer uma enorme desestruturação psíquica. Por fim, o distúrbio não pode ser explicado clinicamente e nem através de exames complementares.

Incidência e Diagnóstico

Considera-se que 4% de pacientes ambulatoriais de uma clínica neurológica na Grã-Bretanha têm um distúrbio conversivo, nos Estados Unidos, 10% dos pacientes internados em hospitais têm tal distúrbio.

A pesquisa empírica do distúrbio conversivo tem ficado muito atrás das especulações teóricas. Avanços recentes nos exames de imagem funcional (tomografia por emissão de pósitrons) e da neuropsicologia congnitiva tem possibilitado uma maior investigação neste campo. O diagnóstico do distúrbio conversivo é feito após a exclusão de uma doença orgânica e a identificação de um agente estressor emocional significativo. Sabe-se que cerca de 30% dos pacientes com esse distúrbio têm uma doença orgânica associada. Os problemas diagnósticos residem em até que ponto desordens orgânicas podem ser excluídas, na concordância de quais situações podem ser consideradas como conflitos psicológicos importantes e também no uso de critérios para excluir a simulação.

As explicações biológicas referem-se à ativação cortical excessiva desencadeando mecanismos cerebrais inibidores ao nível das ligações entre os neurônios, ou no tronco encefálico (região onde se situam vários sistemas de fibras nervosas ativadoras do córtex cerebral).

Foi com bases nessas novas idéias que o Dr. Peter W. Halligan da Escola de Psicologia da Universidade de Cardiff e colaboradores reuniram num artigo informações sobre a importância da utilização de meios de imagem para afastar doenças orgânicas no diagnóstico de distúrbio conversivo.

Evidências recentes através de imagens funcionais indicam algumas áreas cerebrais possivelmente envolvidas. Percebeu-se que regiões do cérebro eram ativadas quando um paciente estudado, com paralisia do lado esquerdo do corpo, tentava movimentar o lado paralisado. Tais regiões cerebrais - partes do lobo frotal e temporal - foram responsabilizadas pela inativação dos movimentos conscientes que o paciente quis realizar.

A neuropsicologia tem tentado estudar a questão através da pesquisa de como desajustes no processo cognitivo normal como volição, memória, controle motor e sensorial, podem causar sintomas clínicos.

Em outros estudos de imagem percebeu-se uma ligação entre a hipnose e o distúrbio conversivo, pois as áreas ativadas após a indução da paralisia pela hipnose foram parecidas com as áreas ativadas no cérebro quando na paralisia do distúrbio conversivo.

Não há estudos controlados com respeito ao tratamento do distúrbio conversivo. Os relatos de casos não controlados e as séries de casos existentes são difíceis de avaliar, pois alguns pacientes melhoram espontaneamente e os benefícios psicológicos de qualquer intervenção podem ser mais importantes do que os de uma intervenção específica.

Há um potencial em utilizar uma abordagem cognitiva comportamental evitando o reforço positivo do sintoma anormal e facilitando maiores ligações entre situações do dia a dia e os sintomas físicos. Tem-se percebido que os eventos da vida e as circunstâncias sociais podem mudar significativamente o prognóstico desses pacientes e há evidências de que mudanças nas relações e nas características da vida dessas pessoas após o início dos sintomas levam a uma melhora mais perceptível.

Mesmo sendo a histeria de conversão uma doença que causa grandes debilidades e ao mesmo tempo preconceitos muitas vezes intensos principalmente pela equipe médica, é quase certo ser uma doença sem uma patologia específica, ou seja, sem uma causa única.

Conclusões

De acordo com as informações acima, pôde-se perceber a imensa variedade de hipóteses que surgem no momento em que não se consegue definir um mecanismo palpável para se compreender uma doença. Diversas formas de tratamento já têm sido trabalhadas, desde o começo deste século através de Freud, um dos primeiros a desvendar as particularidades desse distúrbio. É muito importante que as descobertas através das novas tecnologias como os estudos de imagem, sejam assimiladas com cautela e que antes de tudo sejam utilizadas juntamente com aquilo que já se sabe a respeito. Há sempre diversas formas de se focar diante de um problema. Muitas vezes, essas formas se complementam em vez de se invalidarem. No que diz respeito ao distúrbio conversivo, é bem provável que a forma com que o psiquismo é estudado seja bem diferente da forma com que a biologia é estuda, mas ambos têm muito a acrescentar um ao outro, nessa viagem ao interior da mente humana.

Fonte: BMJ 2000;320:1488-1489(3June)



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